domingo, 11 de maio de 2014

Inovação ou Santo Graal? - Parte 1

Meu propósito hoje era comentar sobre as muitas definições de inovação e explorar minha perspectiva sobre elas, todavia, encontrei alguns artigos 1,2 que na minha opinião cobriam a questão de uma forma interessante o suficiente para expandir meu escopo!

Ao discutirmos inovação e seus muitos significados é inevitável não esbarrarmos na questão do esvaziamento da palavra 4. Evidentemente, como seres "categorizantes" 3 que somos, existe um esforço consistente em andamento para fecharmos uma definição, em especial me interessou o trabalho de DEDIU(2014) que criou uma taxonomia para a inovação na tentativa de corrigir o que ele compreende ser um problema de "innoveracy", ou seja, nossa inabilidade de identificar o que seja uma inovação é o que  torna o processo em si mesmo, "as is", difícil de reproduzir, uma vez que sequer sabemos o que estamos tentando alcançar em primeiro lugar. Particularmente entre todos estes textos, a definição que quase me agradou foi a do BERKUN (2013), com a correção aplicada abaixo:
"Innovation is significant positive change."
A qualificação da mudança precisa ser removida uma vez que, o que consiste uma mudança positiva para uns pode muito bem não ser para outros, como exemplo: pesquisas com células tronco, casamento gay, google glass, etc De qualquer forma, na maior parte das instâncias - e o texto de DANCE (2008) cita MUITAS fontes - a questão do valor, que o BERKUN (2013) tenta incorporar através do termo "positivo" é sempre frisada e foi nesse momento que eu decidi mudar o escopo do meu texto.

Valor em geral é mencionado dentro de um contexto de mercado, é conhecimento geral que a inovação científica acadêmica embora muito se beneficie de iniciativas privadas, nem sempre possui "valor", dentro deste aspecto mercantil restrito. Muitas inovações são a soma acumulada de seus predecessores "inúteis" que criaram o conhecimento que tornou possível o seu surgimento! Embora reconheçamos essa verdade num contexto social mais amplo, quando discutimos inovação aplicada ao ambiente corporativo, a única inovação válida é aquela que agrega "valor", ou seja, em termos mais brutos, aquela que dará dinheiro!

Sabendo que para a maior parte das empresas o "bottom line" é o que orienta todo o processo decisório, e se sequer conseguimos concordar sobre a mais elementar das definições sobre inovação, por qual motivo, qualquer entidade orientada estritamente pelo reproduzível, certeiro e lucrativo optaria por perseguir um caminho tão abstrato?

A iminência da morte é um dos maiores motivadores da pré-disposição para a mudança e as empresas estão sendo fagocitadas por suas contra partes mais jovens, menores, por consequência flexíveis, logo mais adaptáveis à nossa presente realidade em permanente estado de mudança (pun intended). Nada é mais libertador do que não ter absolutamente nada a perder e muitas start ups começam com esse espírito.

O quadro irônico da situação se estabelece de forma completa quando adicionamos à nossa linha de raciocínio três outras informações:
  1. Um dos pilares da inovação, quiça não seja o único que realmente importa, é estritamente humano. Mesmo usando um artigo tão antigo quanto o de ARNDT do ano de 2006, de um site conservador, sobre uma empresa como a 3M, dos sete itens da receita mágica, temos em 5 deles: comprometimento, cultura, comunicação, reconhecimento e foco no consumidor. 
  2. A quantidade de psicopatas entre CEOs, empreendedores e chefes em geral é 4 vezes superior do que a incidência na população como um todo (existem muitos estudos que corroboram esses dados, infelizmente) 7. O que basicamente significa que nossas empresas são administradas por pessoas manipulativas, incapazes de remorso ou empatia, patologicamente egocêntricas e antissociais. Qualquer semelhança com eventos da realidade não é mera coincidência**.
  3.  The Wisdom of Psychopaths: What Saints, Spies, and Serial Killers Can Teach Us About Success

  4. Socialmente continuamos a estimular a mediocridade 8:
"Todavia, o mais frequente é que a imposição da mediocridade e a perseguição da excelência continuem a ser exercidas de forma insidiosa e subtil nas sociedades democráticas, e isso desde a mais tenra infância. O indivíduo me­díocre representa uma jóia para o sistema, pois é o consumidor ideal, fácil de manipular, e não questiona a autoridade nem as normas."
Qual a mais remota possibilidade de sermos bem sucedidos ao implementarmos iniciativas inovadoras num cenário desolador como esse?

Eu acredito que existe esperança e iremos falar mais sobre esses aspectos em nossos próximos post!




** Essa é uma piada destinada a destacar a necessidade de mudança do nosso paradigma gerencial.

Referências:
1 - DANCE, Jeff. What is Innovation? 30+ definitions lead to one fresh summary. Fresh Consulting, 22 Mai. 2008. Acesso em: 11 Mai. 2014.
2 - BERKUN, Scott. The best definition of innovation. SCOTTBERKUN.com, 3 Abr. 2013. Acesso em: 11 Mai. 2014.
3 - MURPHY, Rachel. Why Are People Sexist, Racist, and Judgmental? Behind Cognitive Bias and Prejudice. The nerve blog, 16 Out. 2013. Acesso em: 11 Mai. 2014.
4 - DEDIU, Horace. Innoveracy: Misunderstanding Innovation. Asymco, 16 Abr. 2014. Acesso em: 11 Mai. 2014.
5 - O'DWYER, David. Innovation Talk: Overuse of word innovation has blurred its true meaning. Irish Times, 28 Abr. 2014. Acesso em: 11 Mai. 2014.
6 - ARNDT, Michael. 3M's Seven Pillars of Innovation. Bloomberg Businessweek, 09 Mai. 2006. Acesso em: 11 Mai. 2014.
7 - KAPOOR, Desh. Are CEOs and Entrepreneurs psychopaths? Multiple studies say “Yes”. Patheos  -Blog Drishtikone, 1 Out. 2013. Acesso em: 11 Mai. 2014.
8 - L.G.R. O ataque dos medíocres. Super Interessante, Mar. 2011. Acesso em: 11 Mai. 2014.
9 - O'BRYAN, Michael. Innovation: The Most Important and Overused Word in America. Wired, 15 Nov. 2013. Acesso em: 11 Mai. 2014.






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